Jogador consagrado na lateral direita de um time épico da Gávea, lembrado até hoje pela torcida e apontado pela mídia especializada como um dos melhores de todos os tempos na posição, o hoje técnico Jorginho acaba de assumir o maior desafio de sua vida profissional, após pendurar as chuteiras: Comandar o time do Flamengo e conviver diariamente a limitações técnicas do atal elenco e as cobranças impacientes da maior torcida do Brasil. Entretanto, por onde passa, desde os tempos em que esteve à frente do América, em 2005, ou em sua experiência como coordenador técnico de Dunga na Seleção, durante a Copa de 2010 na África do Sul, o ex-camisa 2 rubro-negro provoca – na maior parte das vezes de maneira involuntária – discussões sobre o tema “religião e futebol”.
Perguntado sobre seu pensamento a respeito da relação entre religião e futebol, Jorginho não se esquivou: frisou que o Brasil é um país onde existe liberdade religiosa e que ele não vê nenhum problema quando os jogadores, nas concentrações, se reúnem para falar sobre assuntos ligados ao tema ou mesmo ler a Bíblia. Entretanto, de forma coerente e serena, Jorginho deixou claro não defender que a fé cristã seja empurrada “goela abaixo”.
Sobre as acusações de que distribui Bíblias em vestiários e que promove reuniões forçadas com jogadores, se aproveitando da condição de treinador, Jorginho foi enfático ao negar e chegou a citar nominalmente alguns jogadores como testemunhas de que isso não passa de especulações. Entretanto, o técnico do Flamengo não escondeu a sua fé: “Nunca vou negar em quem eu creio: em Deus, em Cristo. Amo a Palavra de Deus”, disse, lembrando uma frase de São Francisco de Assis que, segundo ele, é algo pelo qual preza: “Pregue em todo o tempo. Se necessário, use palavras”, mencionando a frase em alusão ao fato de não haver necessidade de discursos na vida do cristão, mas de práticas que o diferenciem.
Jorginho foi além. Destacou que, como homem que teme a Deus, respeita as escolhas religiosas de qualquer outra pessoa. E disse mais: como treinador, frisou que um atleta não é escolhido ou escalado para uma partida pela forma como crê ou não. “Não fui contratado pelo Flamengo porque sou evangélico. Já disseram que eu só coloco pra jogar quem é evangélico. Isso é uma utopia. Sou um profissional do futebol e tenho a minha fé. Gostaria, do fundo do coração, que isso parasse por aqui”, desabafou.
O assunto chegou ao fim na entrevista com contornos de surpresa. Jorginho revelou que Romário foi um dos jogadores com quem, enquanto estiveram em campo juntos, mais teve oportunidade de conversar sobre fé. O treinador rubro-negro elogiou o Baixinho dizendo que ele é uma pessoa “esclarecida” e afirmou que o agora deputado federal é um freqüentador de cultos evangélicos. Mas, tudo isso, sem qualquer pressão ou influência direta de Jorginho.
Fonte: www.soma.org.br (Por Daniel Galvão)
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